por Lauro Campos
Em diversas passagens da Teoria geral é a insuficiência de D², da demanda de bens de produção, expressamente, o fator desequilibrante do sistema: “Depreende-se, portanto, que, dado o que chamaremos a propensão a consumir da comunidade, o nível de equilíbrio da ocupação, isto é, o nível que não induz os empresários a ampliar ou a contrair a ocupação, dependerá da grandeza da inversão corrente” .
Portanto,
se não ocorrem mudanças na propensão a consumir, a ocupação não pode
aumentar, a menos que, ao mesmo tempo, D2 cresça de tal forma que
preencha a diferença ampliada entre Z [oferta] e D¹.
Em outras palavras, quanto maior for a reserva financeira que se considere necessário manter antes de considerar a renda líquida, tanto menos favorável será para o consumo e, portanto, para a ocupação, um nível determinado de investimento.
Em outras palavras, quanto maior for a reserva financeira que se considere necessário manter antes de considerar a renda líquida, tanto menos favorável será para o consumo e, portanto, para a ocupação, um nível determinado de investimento.
Era essencial para Keynes persuadir o leitor daquilo em que ele próprio não cria: que o problema da crise residia na insuficiência da demanda de bens de produção (D²) e não da demanda de bens de consumo [D¹]. Isso ele consegue quando enuncia sua falsa lei psicológica fundamental.
Para a mente formada nos moldes racionalistas, não-dialéticos, como a de Keynes, as relações entre D¹ e D² são relações de mera complementaridade: D = D¹ + D². Logo se D¹ aumenta, mas não tanto quanto Z (devendo Z = D para que os lucros sejam máximos), é necessário que D² cresça para, somando a D¹, complementar a diferença e manter a igualdade.
Para a mente dialética, as relações entre D¹ e D² não são complementares. D² se realiza em D¹, porque o “consumo é, para repetir o evidente, o objeto e o fim da produção”. Quando D², a demanda de bens de capital, movida por estímulos desrealizados que caracterizam o boom, se traduz em capital produtor instalado, cuja capacidade de produção ultrapassa o mais elevado nível de D¹ possível (nas condições concretas em que se move a capacidade de consumo da coletividade), então, foi o crescimento de D² que provocou a crise por excesso de investimento. Nessas condições, D² — a demanda de bens de capital — não pode se elevar para preencher a diferença entre D¹ e Z.
A insuficiência relativa de D¹ (em relação a D²) mostra que entre elas não são relações complementares (D¹ + D² = D), mas dialéticas. A dialética da demanda global não foi determinada pela mente de Keynes e de seus continuadores. Por isto, jamais incomodou a eles o fato de que a destruição do capital, imposta, obviamente, por um excesso de D², e de capital, é necessária e imanente às crises verdadeiras. Para Marx, a destruição do capital é necessária para reduzir a composição orgânica do capital e, graças à diminuição do capital constante em relação ao variável, recuperar a taxa de lucro.
Para Schumpeter, o processo capitalista de produção é caracterizado pela criação destruidora: as inovações tecnológicas impõe a destruição do capital anterior, o capital inovado não se superpõe à capacidade produtiva preexistente, mas elimina-a pela obsolescência. Caso a produção não destrua parte da capacidade produtiva, a crise o fará.
Keynes aconselha a própria redução do capital produtor, promovida pelo governo capitalista, para manter o capital escasso e elevada a sua eficiência marginal. Caso o governo não evite o crescimento desmesurado do capital produtor, sua eficiência marginal cairá a “zero ou abaixo de zero, no curso de uma só geração”. É óbvio que se a eficiência marginal cai a zero ou abaixo de zero, a economia entrará em crise.
Logo, falar-se de aumento de capital real, de elevação de D², de incremento “do coeficiente de novos investimentos” como forma de retirar a economia do subemprego e encaminhá-la para o quase auge do pleno emprego, é supor a inexistência de subemprego e de crise, onde ao invés de aumento do coeficiente de novos investimentos, deverá efetivar-se a destruição do capital constante, do capital produtor, sobreacumulado no auge anterior.
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CAMPOS, L. A crise da ideologia keynesiana. Rio de Janeiro: Campus, 1980.
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