Reportagem do New York Times com documentos “vazados” da China acobertam o terrorismo
Mais uma vez, o New York Times
se colocou como um órgão de interesses especiais do governo dos EUA
operando sob o pretexto de jornalismo, contribuindo para o escalar da
guerra híbrida de Wall Street e Washington em curso contra a China com
uma peça de propaganda particularmente dissimulada.
Seu artigo “‘Absolutamente sem misericórdia’: Arquivos vazados mostram como a China organizou detenções em massa de muçulmanos”
tenta explicitamente impulsionar as alegações feitas, principalmente,
pelos Estados Unidos de que a China tem promovido “detenções em massa”
injustificadas e opressivas de “muçulmanos” na região ocidental de
Xinjiang.
Porém, basta investigar a citação presente na manchete
para que seja revelada a verdade por trás do que está acontecendo de
fato em Xinjiang, por que Pequim tem reagido daquela forma e por que os
Estados Unidos – o que inclui sua mídia de massa – segue mentindo
deliberadamente sobre o assunto.
Após dez parágrafos do artigo do NYT,
a citação “absolutamente sem misericórdia” aparece novamente – só que,
desta vez, é colocada dentro do contexto adequado. Tratava-se da
resposta prometida por Pequim após um ataque terrorista coordenado em
2014, que deixou 31 pessoas mortas na estação ferroviária chinesa de
Kunming.
O NYT escreveu (ênfase adicionada):
O
presidente Xi Jinping, o chefe do Partido, lançou as bases para a
repressão em uma série de discursos proferidos em privado para
funcionários durante e após uma visita a Xinjiang em abril de 2014, poucas semanas depois de militantes uigures esfaquearem mais de 150 pessoas em uma estação ferroviária, matando 31. O sr. Xi pediu uma “luta total contra o terrorismo, a infiltração e o separatismo”, empregando os “órgãos da ditadura” e mostrando “absolutamente nenhuma misericórdia”.
O NYT
– que promoveu ativa e ansiosamente todas as guerras americanas
possíveis de se lembrar – dificilmente recuaria diante da ideia de os
americanos mostrarem “absolutamente nenhuma misericórdia” contra
“terrorismo, infiltração e separatismo”, mas demonstra uma oposição
particular em relação a Pequim, da mesma forma como o jornal age quanto à
Síria e sua luta de oito anos contra o terrorismo financiado por
estrangeiros.
Apesar de afirmar ter acesso a “400 páginas de
documentos internos chineses” – as mais contundentes alegações feitas
por Washington e, de fato, pelo próprio NYT –, ainda assim, não há substancialidade.
Isso
inclui a alegação de que “as autoridades cercaram cerca de um milhão de
uigures, cazaques e outros da etnia uigures em campos de internamento e
prisões nos últimos três anos”. Em nenhum lugar do artigo do NYT, há provas derivadas desses documentos para corroborar com essa afirmação.
Origens duvidosas
Como
muito daquilo que a mídia dos EUA apresenta como “prova” para sustentar
as narrativas do establishment, os “documentos vazados” vêm com dúvidas
sobre sua procedência, tradução e o contexto e a maneira como estão
sendo apresentados ao público. Também há informações deliberadamente
omitidas pelo NYT e por outros veículos que cobriram esse recente “vazamento” que precisam ser levadas em consideração.
O próprio NYT admite (grifo nosso):
Embora não esteja claro como os documentos foram reunidos e selecionados, o vazamento sugere um descontentamento com a repressão dentro do aparato do Partido maior do que se conhecia antes. Os papéis foram trazidos à luz por um membro do establishment político chinês que pediu anonimato
e expressou esperança de que sua divulgação impediria os líderes do
partido, incluindo Xi, de escaparem da culpabilidade pelas detenções em
massa.
Independentemente disso, nada que aparece na reportagem do NYT
é, de fato, uma revelação de qualquer tipo. A China deixou suas
políticas claras em relação ao terrorismo e separatismo em Xinjiang.
Como todas as nações da Terra, a China se recusa a tolerar o terrorismo
violento e a ideologia extremista que o conduz. Essas políticas – quando
apresentadas fora do contexto, tal qual fez propositalmente o NYT – parecem pesadas, opressivas, injustificadas e autoritárias.
Se
apresentadas juntamente com a violência real, o terrorismo e o
separatismo patrocinado por estrangeiros em Xinjiang, tais políticas
assumem uma feição completamente diferente e compreensível.
O terrorismo em Xinjiang é real, mas foi omitido ao se reportar os esforços antiterror de Pequim
A
própria mídia corporativa ocidental cobriu repetidamente o terrorismo
mortal perpetrado por uma minoria de extremistas dentre a população
uigur da China. Todavia, eles o fazem da maneira mais ambígua possível e
se recusam a mencioná-lo ao reportarem posteriormente as tentativas de
Pequim de contra-atacá-lo.
Por exemplo, a CNN em uma matéria de 2014 intitulada “Assassinatos em estações de trem na China descritos como um ataque terrorista” relatou:
Um
dia depois de homens armados com longas facas invadirem uma estação
ferroviária na cidade de Kunming, no sudoeste da China, matando dezenas
de pessoas e ferindo mais de 100, as autoridades descreveram o que
aconteceu como um ataque terrorista premeditado.
O
texto admite também que Xinjiang é assolada por “surtos frequentes de
violência”, em referência a ondas de terrorismo violento perpetrado por
separatistas uigures, mas está longe de qualificar o quão ruim tal
violência tem sido.
A BBC reportaria extensivamente sobre o que a
CNN descreveu como “surtos frequentes de violência” em uma matéria de
2014 intitulado “Por que há tensão entre a China e os uigures?”, relatando que (grifo nosso):
Em
junho de 2012, seis uigures supostamente tentaram sequestrar um avião
de Cotã para Urumqi antes de serem dominados por passageiros e
tripulantes.
Houve derramamento de sangue em abril e em junho de 2013; 27 pessoas morreram
no condado de Shanshan depois que a polícia abriu fogo contra o que a
mídia estatal descreveu como uma multidão armada com facas atacando
prédios do governo local.
Ao
menos, 31 pessoas morreram e mais de 90 ficaram feridas em maio de
2014, quando dois carros bateram em um mercado de Urumqi e explosivos
foram jogados no meio da multidão. A China chamou esse episódio de
“incidente terrorista violento”.
Isso aconteceu após um ataque com bomba e faca na estação ferroviária sul de Urumqi em abril, que matou três e feriu outras 79 pessoas.
Em
julho, as autoridades disseram que uma gangue armada com uma faca
atacou uma delegacia de polícia e escritórios governamentais em
Iarcanda, deixando 96 mortos. O imã da maior mesquita da China, Jume Tahir, foi morto a facadas dias depois.
Em setembro, cerca de 50 pessoas morreram
em explosões no condado de Luntai, perto de delegacias de polícia, em
um mercado e em uma loja. Os detalhes de ambos os incidentes não são
claros, e os ativistas contestaram alguns relatos de incidentes na mídia
estatal.
Essa violência também se espalhou de Xinjiang. Uma onda de esfaqueamentos em março em Kunming, na província de Iunã, que matou 29 pessoas,
foi atribuída aos separatistas de Xinjiang, tal qual um incidente de
outubro de 2013 em que um carro colidiu com uma multidão e explodiu em
chamas na Praça da Paz Celestial em Pequim.
Embora o NYT
também referencie o terrorismo mortal em Xinjiang, o jornal o faz de
uma forma secundária e silenciosa, tentando desvinculá-lo das motivações
de Pequim para perseguir políticas com “absolutamente nenhuma
misericórdia” em resposta.
Não é preciso imaginar o que
aconteceria se tal violência ocorresse em solo americano ou europeu ou
se as polícias locais demonstrassem “absolutamente nenhuma
misericórdia”. Sem dúvida, a reação aconteceria não apenas internamente,
mas em todo o mundo contra os países – supostamente – envolvidos.
Os
ataques de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington D.C.
precipitaram uma “Guerra ao Terror” de 20 anos, que evoluiu para
inúmeras guerras contínuas, ocupações militares e operações secretas em
dezenas de nações. O próprio jornal do Departamento de Defesa dos EUA, Stars and Stripes, em um artigo recente intitulado “As guerras pós-11 de setembro custaram aos contribuintes americanos 6,4 trilhões de dólares, aponta estudo”, veio a admitir (ênfase adicionada):
Os contribuintes americanos gastaram cerca de 6,4 trilhões de dólares em quase duas décadas de guerras pós-11 de setembro, que mataram cerca de 800 mil pessoas em todo o mundo, informou na quarta-feira o Projeto Custo das Guerras.
Os números refletem o custo do combate americano e de outras operações militares em cerca de 80 nações
desde que os membros da Al-Qaeda atacaram o World Trade Center em Nova
York e o Pentágono em Washington em 2001, lançando os Estados Unidos em
suas guerras eternas com o objetivo de suprimir o terrorismo em todo o
mundo.
Em
comparação, as tentativas da China de reabilitar extremistas por meio
da educação e do emprego estão muito distantes da guerra global
promovida pela América, na qual tantas pessoas morreram.
Isso
antes mesmo de considerar que, dos 80 países em que os EUA seguem
travando guerras e matando pessoas, a única nação de onde proveio a
maioria dos sequestradores de 11 de setembro – a Arábia Saudita – não só
foi poupada, como também compra quantidades recordes de armas
americanas. Além disso, a Arábia Saudita hospeda tropas dos EUA para
protegê-la dos Estados regionais que ela ataca abertamente com suas
legiões de extremistas armados com a mesma ideologia tóxica que motivou
os sequestradores de 11 de setembro.
Os EUA patrocinam os tumultos em Xinjiang
Para
piorar o quadro, antes e desde então, os EUA foram repetidamente
flagrados patrocinando essa própria ramificação do extremismo
supostamente por trás dos ataques de 11 de setembro em várias de suas
guerras por procuração e mudanças de regime.
Não é de
surpreender que haja evidências de que os EUA estão alimentando a
violência em Xinjiang e também recrutando extremistas da região para
lutar em guerras por procuração no exterior, especialmente na Síria.
Esses militantes são então devolvidos à China com vasta experiência em
terrorismo.
Como a Voice of America (VOA) – dirigida e financiada pelo Departamento de Estado americano – admitiu em um artigo intitulado “Analistas: Jihadistas uigures na Síria podem representar uma ameaça” (grifo nosso):
Analistas
vem alertando que o grupo jihadista do Partido Islâmico do Turquestão
(TIP) no noroeste da Síria pode representar um perigo para a volátil
província síria de Idlib, onde os esforços continuam para manter um
frágil cessar-fogo mediado pela Turquia e a Rússia entre as forças do
regime sírio e os vários grupos rebeldes.
O
TIP declarou um emirado islâmico em Idlib no final de novembro e
permaneceu, em larga medida, fora do radar das autoridades e da mídia
graças à sua presença discreta. Fundado em 2008 na região noroeste
da China de Xinjiang, o TIP é um dos maiores grupos extremistas na
Síria desde o início da guerra civil no país em 2011.
O TIP é formado principalmente por muçulmanos uigures da China, mas, nos últimos anos, incluiu também em suas fileiras outros combatentes jihadistas.
Recrutas
uigures têm sido traficados através do Sudeste Asiático, onde são
monitorados pelo Departamento de Estado dos EUA – quando descobertos por
outros países, costumam ser detidos e deportados de volta para a China.
Quando a Tailândia se opôs a atender às exigências dos EUA de
que os recrutas uigures fossem autorizados a seguir para a Turquia –
onde seriam armados, treinados e enviados para a Síria –, uma bomba foi
detonada em Bangcoc, matando 20 pessoas. O atentado estava relacionado à organização terrorista turca Lobos Cinzentos, copatrocinada pelos EUA por décadas para expandir as capacidades de guerra não-convencional da OTAN.
A
própria National Endowment for Democracy (NED) financia abertamente
frentes que operam fora de Washington defendendo o separatismo. A página da NED
detalha o financiamento desses grupos, inclusive usando o nome fictício
de “Turquestão Oriental” utilizado por separatistas que rejeitam a
designação oficial Xinjiang, que reside dentro das fronteiras da China
internacionalmente reconhecidas.
A inclusão do termo “Turquestão
Oriental” implica o apoio dos EUA ao separatismo, bem como ao
terrorismo mortal real e em curso comprovadamente usado para
persegui-lo.
E mais do que aprovar implicitamente pelo
separatismo, o apoio do governo dos EUA na forma de dinheiro do NED é
admitidamente fornecido ao Congresso Mundial Uigur (WUC),
que se refere à província de Xinjiang da China exclusivamente como
“Turquistão Oriental” e à administração de Xinjiang da China como “ocupação chinesa”. No próprio site do WUC, artigos como “Op-ed: Um perfil de Rebiya Kadeer, destemida ativista pela independência uigur” admitem que a líder do congresso, Rebiya Kadeer, advoga pela “independência uigur” da China.
O
WUC e suas várias filiais financiadas pelos EUA costumam servir como a
única “fonte” de acusações desferidas contra o governo chinês em relação
a Xinjiang. Tal qual fazem em outros lugares, onde os americanos mentem
a fim de alimentar a inquietação na busca por sua agenda geopolítica,
as denúncias quanto a Xinjiang provêm geralmente de fontes “anônimas”,
baseadas em boatos e na falta de qualquer prova física concreta.
A
rede Radio Free Asia, do Departamento de Estado dos EUA, mantém até um
“Serviço Uigur”, que lança acusações diárias com o objetivo de provocar
uma tensão doméstica na China e manchar a imagem do país
internacionalmente. As alegações da RFA são repetidas de forma acrítica
por outras redes de mídia corporativa ocidentais na tentativa de
aumentar o impacto dessa propaganda.
Gaslighting dos EUA em escala global
Os EUA, por meio de suas políticas e propaganda – incluindo este artigo mais recente do NYT
– acusam Pequim de “repressão” por responder a um terrorismo mortal de
verdade, admitido e amplamente documentado que assola a China.
Ao
mesmo tempo, os americanos perseguem uma guerra global abrangendo 80
nações e que resulta na morte de centenas de milhares, destruindo países
inteiros e desabrigando pessoas ou, de outra forma, destruindo a vida
de milhões.
Ainda que cite o “terrorismo” como pretexto para sua
agressão global, os EUA estão simultaneamente alimentando o extremismo
armado contra o qual afirmam estar lutando. Isso inclui o terrorismo que
o NYT buscou minimizar para aumentar o valor de propaganda de
sua matéria sobre “documentos vazados” – embora outras redes de mídia
ocidentais cubram esse terrorismo por anos.
Essa política dos
EUA não é só desconexa, enganosa e mortal. É incrivelmente perigosa. É
essencialmente uma versão de baixa intensidade do que os EUA têm feito
na Síria e anteriormente haviam feito na Líbia, levando à destruição da
nação do Norte da África.
Trata-se de uma declaração de guerra contra a China – não por meio de uma intervenção militar direta, mas por proxies
armados, propaganda e um esforço deliberado e combinado de semear
instabilidade, divisão e conflito em toda a sociedade chinesa.
Junto à guerra econômica que visa prejudicar a economia chinesa, Pequim se encontra como uma nação sitiada. O fato de não ter respondido a essa ameaça existencial concreta com uma fração da violência e destruição global que os EUA empregaram em sua fictícia “Guerra ao Terror” é a melhor prova de tudo que o regime autoritário e distópico retratado pelo NYT é tão fictício e inexistente quanto é o jornalismo na redação desse jornal.
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[0] Traduzido por Rosa Liebknecht, LavraPalavra.
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