sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

A servidão do The Intercept ao imperialismo onguista


por Léo Camargo
A Pátria

Aplicando a categoria de classes sociais para avaliar a imprensa tradicional brasileira não é muito difícil concluir que ela tem um incontestável caráter de classe que corresponde aos interesses dos grupos dominantes em nosso país.

No entanto, alguns veículos de comunicação não estão entrando na análise correta e sendo devidamente encaixados dentro dos interesses de classes da qual realmente fazem parte. O caso mais famoso atualmente é o veículo de mídia digital The Intercept Brasil. Muito dessa popularidade do The Intercept vem porque o mesmo resolveu comprar a “briga” das lutas políticas do Brasil nos últimos anos. Não se estenderá aqui os pormenores desta “briga”, pois é público e notório à grande maioria.

Mas, afinal, a quem o The Intercept serve? Vejamos.

O The Intercept é um projeto da First Look Media Works (FLMW), que é uma organização sem fins lucrativos criado para apoiar veículos de comunicação. O FLMW também lançou um estúdio de entretenimento, o Topic Studios, que trabalha na criação de podcasts e filmes de longa metragem.

A FLMW se encaixa como uma organização 501(c)(3), que é o código que regula as organizações sem fins lucrativos nos Estados Unidos. Esses tipos de organizações ficam isentas de impostos federais quando apoiam projetos para fins beneficentes, científicos, literários, educacionais, etc. Normalmente as organizações 501(c)(3) são utilizadas por grandes corporações como manobra para burlar o fisco no recolhimento de impostos.

Um caso exemplar deste tipo de manobra é a criação da Fundação Ford. Em 1935, o presidente Franklin Roosevelt decretou o Revenue Act, que estabeleceu a cobrança de 70% de impostos sobre patrimônios declarados acima de cinquenta milhões de dólares. Isso atingiria em cheio a Ford Motor Company, que obteve, em seguida, a reação de Henry Ford vindo a transferir 90% das ações da companhia para um fundo familiar que se denominou Fundação Ford.

Desta forma, o uso de organizações sem fins lucrativos tem, pelo menos, dois grandes benefícios para o grande capital: burlar o fisco para obterem menos pagamentos de impostos e, assim, maximizar os lucros e servir como instrumento de articulação de classe para garantir os interesses de sua classe.

A FLMW é sediada em Nova Iorque e foi criada em 2013 pela Omidyar Group que também financia a FLMW. A Omidyar Group é de propriedade de Pierre Omidyar.

Por sua vez, Pierre Omidyar é o controverso bilionário co-fundador do site de vendas eBay. Omidyar tem um patrimônio avaliado em U$ 13 bilhões. Ele pratica um intenso lobby na Casa Branca, sendo um dos maiores frequentadores da sede do governo estadunidense.

Entre 2009 e 2013 registrou 13 visitas a Casa Branca somando ele, sua esposa (Pamela Omidyar) e Matthew Bannick, sócio-gerente da Omidyar Network. Somente as seis visitas de Pierre Omidyar à Casa Branca é maior do que outros representantes de grandes órgãos da imprensa norte americana como Stephen Burke da NBC-Universal, Roger Ailes da Fox News e Arthur Sulzberger do The New York Times. Entre os maiores investidores que visitam a Casa Branca, Omidyar está acima de nomes de peso como Warren Buffet (5 vezes) e abaixo de George Soros (7 vezes).

Contra Pierre Omidyar pesa a revelação, em 2014, de documentos que mostram que ele financiou grupos na revolução colorida da Ucrânia que derrubou o presidente Viktor Yanukovych e instalou no lugar um governo neofascista. Juntamente com a USAID, entre 2011 e 2012, financiou grupos pró-democracia e pequenos grupos com atividades regionais.

Neste conjunto de informações sobre o bilionário dono de veículos de comunicação rotulado de progressista, o editor-chefe do The Intercept, Glenn Greenwald afirma não sofrer qualquer influência dos interesses de Omidyar, dizendo manter sua independência jornalística.

Bem, se não é influenciado, pelo menos é conivente, já que algumas ações de Omidyar são, no mínimo, discutíveis ética e moralmente.

Em março de 2019 a FLMW anunciou o fechamento dos arquivos de Edward Snowden e justificou o fechamento pela falta de parceria para trabalhar e publicar os documentos. A medida parece sugerir apenas falta de recursos, mas lá em 2013 o FLMW comprou todos os arquivos Snowden e, assim, privatizou o acesso aos documentos. Os únicos com acesso eram os editores do The Intercept, Glenn Greenwald e Laura Poitras. De 2013 até 2019 (ano do fechamento) foi publicado menos de 10% do total dos documentos, que afirmam ser mais de 200.000 arquivos. No fim das contas os arquivos contendo uma vasta gama de informações sobre o sistema de espionagem norte americano ficou nas mãos de Omidyar e mais ninguém.

Interessa aqui uma comparação: A mesma desculpa foi dada por Greenwald quando questionado sobre a lentidão das publicações dos arquivos da vaza-jato. E hoje não há mais uma publicação se quer sobre o tal escândalo dos áudios vazados por hackers.

Pierre Omidyar adquiriu parte da empresa de pagamentos eletrônicos PayPal em 2002. O PayPal cancelou o serviço de pagamentos online que o Wikileaks tinha para receber doações, estrangulando-a financeiramente, juntamente com outros serviços de pagamento como a Visa e a Mastercard.

Segundo a jornalista norte americana Sibel Edmonds, denunciante do FBI e fundadora da Coalizão de Denúncias Sobre Segurança Nacional, Pierre Omidyar criou o The Intercept para se apropriar dos documentos vazados por Snowden e continuar o bloqueio contra o Wikileaks. A FPF, organização para liberdade de imprensa, sediada nos Estados Unidos, votou em 2017 pelo encerramento das doações que recebia dos Estados Unidos para o Wikileaks. Segundo Edmonds, os jornalistas que compõem a FPF são financiados por Pierre Omidyar.

Em uma entrevista de julho de 2014, com Amy Goodman, do Democracy Now, Julian Assange criticou o FLMW:
Infelizmente, o First Look não é apenas Glenn. First Look é realmente o grande poder. Todo o dinheiro e a organização vem de Pierre Omidyar. E Pierre Omidyar é um dos fundadores, é o fundador do eBay e é dono do PayPal e vai à Casa Branca várias vezes por ano, tem extensas conexões com Soros e pode ser descrito como um centrista liberal extremo. Então, ele tem uma visão bem diferente sobre o que o jornalismo implica. Por exemplo, ele disse este ano, e também em 2009, que se alguém lhe desse um vazamento de uma organização comercial, e não de governos, ele sentiria que era seu dever contar à polícia. Portanto, esse é um tipo muito diferente de padrão de jornalismo que vem de Pierre Omidyar. E, infelizmente, parte disso, ou talvez uma quantidade significativa, entrou no First Look e criou algumas restrições lá.
Agora, um fato curioso sobre o passado de Glenn Greenwald vem de um blog que ele mantinha em 2005. O blog se chamava Unclaimed Territory - By Glenn Greenwald e era um site onde ele fazia análises políticas de fatos pelo mundo. Em um artigo datado de 04 de Novembro de 2005, intitulado "A realidade da reação latino-americana à Bush", Greenwald expõe o que pensa sobre nós – os latino-americanos – e o socialismo, além de outras coisas mais. O artigo é sobre a visita de George W. Bush, então presidente dos Estados Unidos, ao Brasil durante o governo Lula. O que ele nos diz:

É verdade que nessa região (como é o caso nos EUA), permanece um pequeno e fervoroso grupo de fanáticos de esquerda com entusiasmo enlouquecido pelas políticas desgastadas, socialistas/coletivistas que condenaram milhões e milhões de pessoas em todo o mundo à pobreza inimaginável. Essas supostas "manifestações de massa" na Argentina e no Brasil são, na realidade, nada mais do que alguns incidentes isolados de pintura com spray de slogans pacifistas banalizados em Brasília e um "comício" de Cindy Sheehan, como socialistas duros na Argentina, liderados por um jogador de futebol aposentado obeso [Diego Maradona], idólatra de Castro, que encontrou um tempo longe do seu vício em cocaína de uma década para aparecer vestindo uma camiseta tão inteligente que mostrava o nome de Bush escrito com uma suástica.

Logo, em meio a todas essas ações de Pierre Omidyar, não é só conivência de Glenn Greenwald. Ele trabalha, aceita e coopera para as organizações Omidyar, que tem estreitas ligações com o departamento de estado norte americano. Portanto ele é influenciado por interesses de classe muito bem definidos. Este é o jornalista alçado a herói pela esquerda liberal.
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