sábado, 28 de abril de 2018

A redundância formalista do conceito "biopsicossocial"



por Paulo Ayres

Dizer que o ser humano é ser "biopsicossocial" se tornou um dos termos científicos da moda. O procedimento é claro e revela o fundo ideológico: tratar os componentes do ser humano de maneira formalista, metafísica, como se fossem SOMAS de elementos distintos. Até parece que existe um ser social, a terceira esfera ontológica, que não tenha em si o ser orgânico (ser biológico) e este, por sua vez, contenha o ser inorgânico. O Aufhebung que dá origem ao ser humano significa justamente a síntese dialética/salto ontológico que conserva e eleva.

Outro ponto: é perceptível aquela confusão liberal que considera o social como sinônimo de gregário, coletivo - como se uma matilha de lobos também fosse "social". E, complementando isso, muitos consideram, equivocadamente, haver um fictício "ser psíquico" descolado do ser social.

G. Lukács observa que até mesmo o neoiluminista Nicolai Hartmann, um dos maiores filósofos do século XX com a sua abordagem ontológica, comete esse deslize:

A concepção de que o ser psíquico do ser humano compõe uma esfera de ser tão autônoma quanto a do ser orgânico ou a do ser social brota diretamente da postura de não tomar conhecimento da origem. [...] Hartmann parte exatamente dessa separação entre psíquico e social, dada na atualidade de modo aparentemente imediato e indubitável, e a hipostasia numa esfera própria de ser, sobre a qual a esfera do espírito deverá então se constituir (LUKÁCS, 2012, p. 159).

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Referência bibliográfica:

LUKÁCS, G. Para uma ontologia do ser social I. Trad. Carlos Nelson Coutinho, Mario Duayer e Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2012.
04/04/2018
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